Prezado *Polaco,
saúde e paz para todos aí,
Para não perder o costume, volto a bater na mesma tecla: Ilha Grande.
enredado nas malhas do passado, como um saudosista inveterado, volto a escrever sobre aquilo que permanece vivo na minha lembrança, malgrado o passar do tempo, e o faço na forma de crônica, desta vez um tanto quanto inusitada, começando em prosa e acabando em versos.
CRÔNICA
Elane Rangel.
Em meio a tantas coisas boas que aconteceram na Colônia Agrícola , em Dois Rios, no limiar dos anos cinqüenta, houve uma que com toda sua singeleza, ficou gravada na minha lembrança, na forma mais sutil de uma doce saudade.
Refiro-me a uma feirinha que acontecia aos domingos, em frente ao Cassino. Logo ao amanhecer, aos primeiros lampejos do dia, começavam a chegar os feirantes com seus cestos abarrotados de produtos da roça, os mais variados. Era gente que vinha em sua maioria do Povoado de Parnaióca e alguns poucos, do Cachadaço.
Pouco a pouco a clientela ia chegando, com suas sacolas e enchendo-as daquilo que mais lhe convinha.
Era sempre uma festa de alegria e confraternização, e por que não dizer, de bons negócios.
Incomodado com o sucesso da feirinha, o funcionário do presídio por nome Moacir de Almeida, o popular " Amigo da Onça", fazendo uso da autoridade que lhe fora outorgada de sub-delegado do Vilarejo, resolveu por um fim na dita feirinha, causando assim um enorme mal estar na comunidade que passou a vê-lo como o verdadeiro Amigo da Onça.
FEIRINHA DOS DOMINGOS
Elane Rangel
Lembro –me de uma feirinha
Que em frente ao Cassino tinha,
Que vinha da Parnaioca.
Foi lá pra os anos cinqüenta,
Tinha mamão e pimenta,
Galinha, milho e mandioca.
Era grande a variedade
Que traziam pra "cidade"
De artigos para feira:
Inhame, côco, gaiola,
Caldo de cana, graviola,
Banana, cesto e esteira.
Também farinha da roça,
Nem tão fina nem tão grossa,
Do jeito que desse ser;
Rapadura,ovo, melado,
Pinta-silgo e avinhado.
Tinha tudo pra vender.
Tratando-a por geringonça,
Moacir, "o amigo da onça"
Pôs um fim no seu reinado,
Acabando assim com tudo
O ranzinza, narigudo
Sentiu-se realizado.
Quanta coisa boa tinha
Naquela humilde feirinha
Mas de tão grande valia;
Foi um dia bem tristonho
Que acabou com todo o sonho
De quem dela dependia.
A vida tornou-se dura,
Mais difícil e insegura,
Para toda aquela gente;
Por causa de um narigudo,
Insensato e sisudo,
Infeliz e inconseqüente.
Um Forte Abraço
* Elane Rangel.
*Elane Rangel e Oli Demutti Moura (Polaco) são filhos de antigos funcionários do presídio, Octávio Rangel e Ivo Moura, respectivamente.
-Vai aquí o meus agradecimento, aos companheiros de infância (eu um pouquinho mais velho), Elane e Polaco pela oportunidade de poder publicar esse texto maravilhoso que tantas lembranças nos traz.
Elane, muito bacana o seu relato. Sempre que estou caminhando pela trilha Dois Rios - Parnaioca me pego pensando no trânsito dos antigos moradores por ali, principalmente quando me aproximo do Mar Virado, localidade onde me disseram já ter sido a moradia de diversas famílias.
ResponderExcluirA grande base de uma ponte num trecho conhecido como Cachoeira Seca, onde apenas uma viga de "pinho de riga" resiste bravamente ao tempo, faz a minha imaginação trabalhar ao tentar imaginar como era a antiga estrada por onde vinha o "povo da Parnaioca".
Marvirado, assim como a Parnaióca eram rota de fuga dos presos e as primeiras localidades onde se dirigiam os guardas no encalço dos fugitivos. Chamava-se de "Diligência" a formação de Guardas para a captura.
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