segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Memória do tráfico de escravos na Ilha Grande

Dois Rios na rota do tráfico de escravos

Nenhum ciclo brasileiro consumiu, proporcionalmente, tantos escravos como o ciclo do  ouro levando o pobre negro a uma  vida efêmera, tanto pela falta de alimentos quanto pelo trabalho penoso e insalubre nas minas.
Durante o século XVIII a Ilha Grande, por sua posição geográfica,  tornou-se um local propício para o descarregamento de escravos, destacado-se a Praia das Palmas e do Abraão. Nesta última, em 1721, o navio francês “Jean Baptiste” foi pilhado em flagrante descarregando escravos, tripulação e seu comandante, foram presos, sendo sua carga confiscada e vendida em praça pública no Rio de Janeiro.
Na Ilha Grande, destacou-se como traficante Cunha Guimarães, proprietário da Fazenda de Dois Rios. Wilbeforce, que a visitou em 1831, diz ser ainda uma bonita Fazenda, muito embora já em estado de decadência. Duzentos escravos trabalhavam na lavoura de café, e havia algum gado. Impressionou-lhe a boa qualidade da construção dos ‘baracoons’, senzalas, comentando que por serem tão bem construídos poderiam servir para inúmeros outros fins. Embora, como até hoje,  não houvesse cais para a atracação de embarcações, a situação da Enseada de Dois Rios apresentava todas as condições de desembarque
Escravos embarcando para o fundo do navio


A participação de Cunha Guimarães no montante de escravos, ilicitamente importados pelo Brasil,   é difícil dizer, sabe-se que em 1837, 524 negros são desembarcados na Fazenda de Dois Rios pelo bergatim ‘Recuperador de Angola’ de 170 toneladas. Além desse desembarque,  não há outro registro, muito embora se saiba que várias centenas de africanos foram ali desembarcado, inclusive  na praia do Caxadaço que por ser uma enseada  bem protegida do mar aberto era usada como entreposto comercial e tráfico de escravos.

 Temos conhecimento que em frente a Fazenda de Dois Rios foram incendiados dois navios tumbeiros e que a sua carga de escravos ficou escondida na Toca das Cinzas (1) por vários dias.


Registra-se também o caso do tumbeiro "Tentativa" (nome bastante sugestivo), que vinha rumo a Fazenda Dois Rios para desembarcar escravos (700). 
Por pouco o "Tentativa" não caia nas mãos da tripulação da belonave inglesa "Geyser", onde Wilbeforce servia. Alguém lhe avisou, o que fez com que mudasse de rota para Macaé. O azar perseguia o "Tentativa" que próxima  ao distrito de Quissamã, encalhou, tornando-se assim presa fácil para as autoridades da cidade de Campos.


Nota
 (1) A Toca das Cinzas fica bem próxima a Colônia de Dois Rios, seguindo-se pela estrada em direção a Parnaióca.
A Toca, na época, servia  como depósito de escravos que passavam clandestinamente por Dois Rios.
Diz a história que ali eram queimados os corpos dos escravos mortos, dai o nome Toca das Cinzas.
 No piso da gruta observam-se as marcas deixadas pelas ferramentas que eram ali amoladas, pelos índios e pelos escravos
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Fonte:
"Apontamentos para a história do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Ilha Grande".
Carl Egbert Hansen Vieira de Mello

Um comentário:

  1. Amigo Sousa Neto:

    Inseri uma foto do Lauro Reginaldo da Rocha no blog, sedida pelo jornalista Geraldo Maia do Nascimento.
    Veja link:
    http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2011/12/lauro-reginaldo-da-rocha-bangu.html
    Felicidade.
    José Mendes Pereira

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