sábado, 9 de abril de 2011

Ambientes Opostos


                                                                 Crônica

 *Elane Rangel

                         Quem  viveu  em  Dois Rios, na Ilha Grande, pelo  menos, da  segunda  metade da década de quarenta   até  a consolidação total  do  regime  militar no Brasil,  por  volta   de  mil novecentos  e  setenta, pôde  constatar  dois  ambientes  diferentes,  sendo  vividos  no  mesmo lugar  e  ao  mesmo  tempo.
                                  Se por um  lado, na  parte  externa do  presídio, reservada  ao funcionalismo  e à comunidade  em  geral, a  vila, propriamente dita, havia  descontração  e  até  certo ponto, uma sensação  de  felicidade  em seus  habitantes; já  do lado  oposto, por trás dos  muros  do  cárcere, não poderíamos dizer a mesma coisa, pois  lá  pairava  tristeza  e  desolação.
                                   E  assim  fluía a  vida  na  Colônia   Penal  de  Dois Rios.
Vista do Presídio Cândido Mendes
                                   Presos  políticos  de  grande  influência partidária, jornalistas, intelectuais e até mesmo artistas renomados, conviviam  no  mesmo ambiente com os comuns, em sua grande maioria, elementos    desclassificados, a espúria da ralé:  ladrões, homicidas, facínoras de toda a  ordem, o que  mantinha um ambiente tenso  no presídio.
                                   Com  o regime político autoritário que se instalara no país, acirraram-se    mais os ânimos entre a guarda e o internos do presídio que,angustiados pela sensação   de  insegurança que havia, temiam pelo que lhes pudesse acontecer dali por diante; se cumpririam ,normalmente, as penas que já lhes haviam sido impostas, ou ,se medidas mais drásticas ainda poderiam recair  sobre eles.  
                                    Esse  estado de  ânimo era  mais  comum  entre  os  presos  políticos.
                                    Ainda no período revolucionário, um dos principais chefes do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, José Carlos dos Reis Encina, o popular  “escadinha” que  se  encontrava  preso em Dois Rios, conseguiu evadir-se, numa fuga espetacular, com o auxílio de  um    helicóptero num ação rápida  e  bem urdida
                                    Todavia, antes  deste período  revolucionário, de triste   lembrança  para todos nós,  a vida em Dois Rios era pacata e tranqüila,  fluía  num ambiente  calmo  e  fraterno,   as pessoas demonstravam  felicidade  e   viviam   sem queixas.
                                  Até mesmo o lado carcerário, era relativamente calmo.   Os   presos   cumpriam suas  penas sem perturbarem  a ordem  externa. Porém, como em todo o presídio, vez em quando, surgiam  graves  conflitos entre  eles, chegando,por vezes, a cometerem  bárbaros  crimes contra  desafetos.                                       
                                    Mas... vida  de  cadeia  é  mesmo  assim!


* Elane Rangel é filho de Octávio Rangel filho de antigo funcionário do presído de Dois Rios.


                                                                                                      

 

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