Crônica
* Elane Rangel.
Como em todo e qualquer presídio, impera sempre a lei do mais forte, do mais valente, e porque não dizer também, do mais cruel e covarde.
E no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, não foi diferente. Durante mais de meio século repetiram-se da mesma forma, as mesmas atrocidades cometidas em outras casas de detenção, ao redor do mundo.
Houve como sempre houve nos presídios do mundo inteiro: motins, fugas, ameaças de revolta, e perturbação da ordem interna, como queima de colchões, camas e roupas de cama, na tentativa de intimidar as autoridades responsáveis pelos estabelecimentos penais.
Em Dois Rios, na Ilha Grande, também foi assim. Houve algumas tentativas de intimidação, por parte dos internos, com ameaças de fugas, motins e também a execução sumária de colegas de infortúnio, por não se mostrarem adeptos às suas ideias e planos macabros. Numa tentativa de afirmação, querendo mostrar assim, a seriedade de suas intenções.
Presídio Cândido Mendes-Dois Rios-lha Grande |
Em mil novecentos e sessenta e dois, vazou um boato de que havia um plano de revolta no presídio, no qual, os presos tramavam uma fuga em massa, na hora do rancho, em que sequestrariam e matariam funcionários e seus familiares, e que apenas duas famílias seriam poupadas: a do Sr. Rangel e da dona Cleonice (1), uma outra funcionária, que exercia a função de professora e nas horas vagas, de catequista dos internos, muito querida pela classe carcerária. Felizmente, isso nunca aconteceu.
Durante todo esse tempo em que o presídio Cândido Mendes esteve na Ilha Grande, que tenha sido do meu conhecimento, houve apenas um caso de homicídio cometido por um preso contra um funcionário do presídio. Trata-se do guarda de presídio José Honório, assassinado a tiros, com sua própria arma, por um interno componente da sua turma de trabalho.
Os crimes aconteciam internamente, entre eles próprios, os presidiários, que, de tempos em tempos, os cometiam, sacrificando a vida de seus desafetos.
Alguns presos, porém, por suas condutas corretas e bom relacionamento com funcionários do presídio tiveram a chance de trabalhar e morar fora do reduto fechado do presídio, em seus locais de trabalho. Como, por exemplo, um preso de origem alemã, por nome, Bruno, trabalhou e morou numa usina hidroelétrica, em Dois Rios, por um largo período de tempo. Outro exemplo foi o de José Carlos Maia, que residiu no seu local de trabalho num aviário, uma espécie de granja oficial do presídio. O capitão do exército, Túlio, cumpriu parte de sua pena, morando num cômodo ao lado da grande caixa d’água que abastecia, praticamente, toda a vila de Dois Rios.
Houve ainda outros presidiários que tiveram a mesma regalia, em diferentes épocas.
Em mil novecentos e sessenta e quatro, num dia de domingo, por volta das doze horas, cerca de cem presidiários, entre jogadores e torcedores que regressavam do campo de futebol, pararam diante do portão central do presídio, negando-se a adentrá-lo, numa tentativa de revolta, com fuga em massa, já previamente combinado com uma outra turma de detentos que tomava banho de sol no pátio interno do presídio, com a missão de na hora certa, avançarem subitamente contra os guardas que os vigiavam para se apoderarem das armas e assim, iniciarem o seu audacioso plano, com duas frentes de ação, uma interna e outra, externa.
Porém, graças ao destemor e a tenacidade do então diretor do presídio, Paulo Américo Cunha, que os enfrentou com palavras de ordem, proferidas em alto tom, como se um urro animal, ordenando-os que entrassem ou morreriam todos. Nesse momento, a polícia já estava postada, estrategicamente, para o que fosse preciso.
Depois de muito relutarem, resolveram obedecer à voz de comando do valente e austero diretor.
Esse foi um, de alguns poucos episódios dessa natureza, que aconteceram em Dois Rios, durante a permanência do presídio na Ilha Grande.
Notas:
*Elane Rangel é nosso colaborador e filho de Octávio Rangel, funcionário do presídio Cândido Mendes e citado na crônica.
(1)Cleonice Lins Castanha, minha prima, era muito querida pelos presidiários e exercia no presídio um trabalho importante e humanitário. Cleonice era filha de Eduardo Cavalcante Lins (também funcionário do presídio) e Maria do Carmo (Carminha)
Eu Marcos Chagas, chequei até ver brigas entre internos no domingo no campo de futebal inclusive uma morte numa briga que começou no campo e terminou no areal, lembro-me também de uma tentativa de fuga em 1972, onde os detentos subiram em massa o morro da caixa d´água, isto é, as turmas que estavam trabalhando fora do presidio, mais foram rápidamente controlados pela policia militar e guarda do presidio
ResponderExcluirObrigado Marcos pela visita. Entre em contato deixando seu tel. ou e mail para conversarmos.
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