segunda-feira, 4 de abril de 2011

Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande.




Crônica

 *Elane Rangel.

Como em todo e qualquer presídio, impera sempre a lei do mais   forte, do mais valente, e porque não dizer também, do mais cruel e covarde.
E no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, não foi diferente.   Durante mais de meio século repetiram-se da mesma forma, as mesmas atrocidades cometidas em outras casas de detenção, ao redor do mundo.
Houve como sempre houve nos presídios do mundo inteiro: motins, fugas, ameaças de revolta, e perturbação da ordem interna, como queima de colchões,  camas e roupas de cama, na tentativa de intimidar  as autoridades responsáveis pelos estabelecimentos penais.
Em Dois Rios, na Ilha Grande, também foi assim. Houve algumas tentativas de intimidação, por parte dos internos, com ameaças   de  fugas,  motins e também a execução sumária de colegas de infortúnio, por não se mostrarem adeptos às suas ideias e planos macabros. Numa tentativa de afirmação, querendo mostrar assim, a seriedade de suas intenções.
Presídio Cândido Mendes-Dois Rios-lha Grande
Porém, debalde, foram os esforços daqueles que tentaram intimidar as autoridades, para causar a instabilidade e o desequilíbrio emocional de todos.
Em mil novecentos e sessenta e dois, vazou  um boato de   que  havia   um plano de revolta no presídio, no qual,  os presos tramavam uma fuga em massa, na hora do rancho, em que sequestrariam e matariam funcionários e seus familiares, e que apenas duas famílias seriam poupadas: a do Sr. Rangel  e da dona Cleonice (1), uma outra funcionária,  que exercia a função de professora e nas horas vagas,  de  catequista  dos   internos,  muito querida  pela  classe  carcerária. Felizmente, isso nunca aconteceu.
Durante todo esse tempo em que o presídio Cândido Mendes esteve na Ilha Grande, que tenha sido do meu conhecimento, houve apenas um caso de homicídio  cometido por um preso contra um funcionário do presídio. Trata-se do guarda de presídio José Honório, assassinado a tiros, com sua própria arma, por um interno componente da sua turma de trabalho.
Os crimes aconteciam internamente, entre eles próprios, os presidiários,  que, de tempos em tempos, os cometiam, sacrificando a vida de seus desafetos.
Alguns presos, porém, por suas   condutas  corretas  e  bom  relacionamento com funcionários do presídio tiveram  a chance de trabalhar e morar   fora do reduto fechado do presídio, em seus locais de trabalho. Como, por exemplo, um preso de origem alemã, por nome, Bruno, trabalhou  e  morou numa usina    hidroelétrica, em  Dois Rios, por   um  largo  período  de  tempo.  Outro exemplo foi o de José Carlos Maia, que residiu no seu local de trabalho num aviário, uma espécie de granja oficial do presídio. O capitão do exército, Túlio, cumpriu parte de sua pena, morando num cômodo ao lado  da grande caixa d’água que abastecia, praticamente, toda a vila  de Dois Rios.
Houve ainda outros presidiários que tiveram a mesma regalia,  em  diferentes épocas.
Em  mil novecentos e sessenta  e quatro, num dia de domingo,  por  volta  das  doze horas, cerca de cem presidiários, entre jogadores e torcedores que regressavam do campo de futebol, pararam diante do portão central do presídio, negando-se a adentrá-lo, numa tentativa de revolta, com fuga em massa, já previamente combinado com  uma outra turma de detentos que tomava banho de sol no pátio interno do  presídio, com a missão de na hora certa, avançarem subitamente contra os guardas que os vigiavam para se apoderarem das armas e assim, iniciarem o seu audacioso  plano, com duas frentes de ação, uma  interna e outra, externa.
Porém, graças   ao  destemor  e  a  tenacidade  do  então  diretor  do  presídio, Paulo Américo Cunha, que os  enfrentou com palavras de ordem, proferidas em  alto tom, como se um  urro animal, ordenando-os que entrassem ou morreriam todos. Nesse momento, a polícia já estava postada, estrategicamente, para o que fosse  preciso.
Depois de muito relutarem, resolveram obedecer à voz de comando do  valente e austero diretor.
Esse foi um, de alguns poucos episódios dessa natureza, que aconteceram em Dois Rios, durante a permanência do presídio  na   Ilha Grande.

Notas:

*Elane Rangel é nosso colaborador e filho de Octávio Rangel, funcionário do presídio Cândido Mendes e citado na crônica.

(1)Cleonice Lins Castanha, minha prima, era muito querida pelos presidiários e  exercia no presídio um trabalho importante e humanitário. Cleonice era filha de Eduardo Cavalcante Lins (também funcionário do presídio) e Maria do Carmo (Carminha)



2 comentários:

  1. Eu Marcos Chagas, chequei até ver brigas entre internos no domingo no campo de futebal inclusive uma morte numa briga que começou no campo e terminou no areal, lembro-me também de uma tentativa de fuga em 1972, onde os detentos subiram em massa o morro da caixa d´água, isto é, as turmas que estavam trabalhando fora do presidio, mais foram rápidamente controlados pela policia militar e guarda do presidio

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  2. Obrigado Marcos pela visita. Entre em contato deixando seu tel. ou e mail para conversarmos.

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