sábado, 5 de março de 2011

Carnaval - uma falsa alegria ?


Brasília, 05 de março de 2011.



Antes de responder, façamos uma rápida análise etimológica da palavra carnaval, recordando a origem e a evolução histórica do vocábulo.

A palavra carnaval se aplicava originalmente à terça-feira gorda, a partir de quando a Igreja Católica proibia o consumo de carne. Alguns etimólogos propõem como origem o baixo latim carnelevamen, modificada mais tarde em carne, vale! que significa “adeus, carne!”. “Carnelevamen” pode ser interpretada como “carnis levamen”, “prazer da carne” antes das tristezas e continências que marcam o período da Quaresma.

A origem da festa tem sido atribuída à sobrevivência e evolução do culto de Ísis, das bacanais, lupercais e saturnais romanas, das festas em homenagem a Dionísio, na Grécia, e até mesmo das festas dos inocentes e dos doidos, na Idade Média.

Entre o silêncio interior e o carnaval não existe barreira instransponível, mas, sim, a possibilidade do ser humano exercitar uma de suas prioridades existenciais, isto é, saber escolher o que mais lhe convém, o que realmente priorizar como diversão.

As alegrias experimentadas nos dias de carnaval costumam deixar resíduos morais nocivos na alma, tornando-os traumáticos, permanentes, marcantes. A história dessa festividade mostra as sobras da amargura, da tristeza, dos aborrecimentos, dos desajustes familiares, dos desequilíbrios financeiros, das violências de todos os tipos, entre outras cruéis e dolorosas situações deixadas como rastros dessa mascarada e mentirosa alegria.

O tempo das famílias inocentes sentarem-se nas calçadas para ver os blocos passarem ficou na saudade. Em substituição, surgiu não só a necessidade cada vez maior de uma comercialização insaciável, com lucros exorbitantes, como também o extravasamento sempre audacioso do instinto sexual, da sensualidade, tema este largamente trabalhado com fins comerciais, tanto interna como externamente.

Quantas lembranças agradáveis, que passam pelo meu pensamento, das canções que se tornaram clássicas das festividades do período momesco, executadas em todos os carnavais, no salão do Cassino, o clube da praia de Dois Rios, na Ilha Grande, ao tempo minha infância à adolescência. Entre elas se contam Abre alas (1899), Cidade maravilhosa (1935), Mamãe eu quero (1937) e Jardineira (1939).


Celebrizaram-se, também, os bailes do Teatro Municipal, no Rio de Janeiro, entre 1932 e 1975, e os dos hotéis de luxo como o do Glória, do Copacabana Palace e do Quitandinha, Petrópolis. Sem contar com o famoso baile do Bola Preta.

O carnaval de hoje destrói a saúde física e moral, desnatura a pureza dos sentimentos nobres e impede maior expansão e expressão de caridade.

Nenhuma criatura que já desfrute do verdadeiro equilíbrio de sentimentos, emoção e logicamente do bom senso pode escolher, como alegria a loucura do carnaval que adormece o ser, em detrimento daquelas outras formas de alegria, as quais levam as pessoas ao deleite de um bem-estar, e que podem ser assim enumeradas: a convivência e conversação com pessoas da família ou amigos; a leitura de um bom livro; o passeio no campo ou na praia, enfim, tudo que tenha como cenário a natureza, que expressa o canto celeste da vida em sua real dimensão.

Enquanto os foliões se entregam aos prazeres provocadores dos desgastes físicos e morais, superlotando os salões ricamente decorados, os miseráveis da vida, de estômago vazios e corações sedentos de amor, multiplicam-se nas ruas e estendem suas mãos súplices à caridade.

São cegos, enfermos, crianças abandonadas, mães aflitas e sofredoras que desfilam ao lado dos mascarados da falsa alegria.

Cada ano mais e mais contribuições governamentais abarrotam os cofres dos que logram materializar essas festas.

Aqui, em Brasília, temos uma cidade satélite com o nome de Ceilândia, um significativo colégio eleitoral, prato cheio para políticos. O governo do Distrito Federal gastou um montão de dinheiro para construir um Ceilambódromo, em detrimento de mais verbas para segurança, saúde e educação. E o pior de tudo: com o dinheiro do contribuinte. Fomos consultados? Nunquinha!, como diz o caipira.

Preocupemo-nos com os problemas nobres da vida, porque só assim poderemos transformar o gasto supérfluo na migalha abençoada capaz de suprir as reais necessidades dos mais carentes.

Enquanto houver um mendigo abandonado junto aos superabundantes gastos do carnaval - com dinheiro público -, somente se poderá registrar que continuamos passando a nós mesmos um eloqüente atestado da nossa miséria moral.


Olí Demutti Moura, o Polaco


Oli Demutti Moura, mora  em Brasília-DF e é filho de Ivo Moura, antigo Funcionário do presídio da Ilha Grande


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Foto recente do Cassino do acêrvo de Juarez Gustavo Amorim de Alagão, amigo e colaborador do nosso Blog.

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